lunes, 1 de diciembre de 2008

Hasta luego, Argentina

Desci em Humahuaca, conversei com um senhor sobre música (eu disse que não gosto de Roberto Carlos e ele achou ruim, quis saber o motivo). Nos despedimos e peguei o ônibus que dizia La Quiaca, cidade que faz fronteira com Villazón, já no lado boliviano. Cheguei à noite, não me lembro exatamente o horário, mas se tivesse que, por força de tortura, precisar um horário, diria que foi às oito e meia. Me instalei e fui logo comprar algo para cozinhar. Comi como alguém que não comia há uma semana, conversei com dois camaradas de La Plata e fui dormir leve como uma cortina de fumaça. Sexta-feira, vinte e um de novembro do corrente ano. Acordei cedo para cruzar a fronteira. De onde eu estava hospedado, dez minutos caminhando e já me encontraria na divisa entre Argentina e Bolívia. Do lado argentino, uma pequena fila. Paguei a multa de cinquenta pesos devido ao visto vencido. Tudo resolvido. Em Villazón, lado boliviano, formulário preenchido, passaporte carimbado. "Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, se quiser voar". Me falaram que pode-se comprar celulares, câmeras e filmadoras digitais, tênis e até uma alma. Otimos preços! Eu não quis nem saber, estive o tempo de esperar o ônibus que me deixaria em Tupiza. Tampouco tenho dinheiro comprar essas parafernálias. Três horas de viagem em estrada de terra. Quatro lindos bebês se organizaram e fizeram um coro de choro, com direito a solos de fazer inveja a qualquer tenor. O concerto durou pouco. Cheguei em Tupiza, cidade tranquila, pequena. Consegui um bom e barato lugar. Cozinhei. Saí para dar uma volta e, por pura casualidade, encontrei os dois camaradas de La Plata. Jogamos conversa fora, tomamos duas cervejas. Voltei para casa, li um pouco o livro Los Lanzallamas, do impressionante escritor argentino Roberto Arlt, e dormi. Dia seguinte, ônibus para Uyuni às dez da manhã. Seis horas de estrada. De terra. As serras bolivianas davam o contorno à minha paisagem. Serras onde em outubro de 67 capturaram e fuzilaram Ernesto Guevara de la Serna. Naquele nove de outubro, o general do Exército Boliviano e futuro presidente ditador, René Barrientos, fortemente apoiado econômica e militarmente pelos Estados Unidos, deu ordem para assassinar Che. Desgraçadamente, há quem bata palma para Barrientos e os yankees. Cheguei em Uyuni às quatro da tarde e, como rotina, saí a buscar onde poder dormir. Me instalei e fui comer alguma coisa, ver o movimento da cidade. À noite, chequei notícias, e-mails... Bati um papo com meu amigo Gustavo e fui dormir, depois de ler algumas infelizes páginas, como um bebê inocente, que nem desconfia da hostilidade que habita o nosso mundo. No dia seguinte, domingo vinte e três de novembro, céu de anil, fui conhecer o Salar de Uyuni, o famoso deserto de sal. Um passeio com guia, almoço e uma paisagem que não acaba mais. São doze mil metros quadrados de deserto. Incrível! Nem vou me atrever a escrever algo sobre esse lugar. Será pouco. Fim de passeio, hora de pegar o ônibus, às oito da noite. Destino: Potosí. Às duas da madrugada, cansado depois de seis horas de viagem - sim, em estrada de terra, cheguei em Potosí, cidade a 4.060m acima do nível do mar. A altitude incomoda bastante. Tá na hora de mascar folha de coca! Eu tive asma quando pequeno, assim como Che. A minha era mais amena que a dele. Busquei qualquer lugar, desses baratos, só para cair em sono profundo. Acordei nesta segunda-feira decretando feriado e procurando um outro lugar para "morar". Encontrei um legal e com bom preço, com bastante gente para conversar e trocar idéias. Gostei da cozinha. Saí para comprar alguns ingredientes para meu macarrão. De barriga cheia, fui caminhar pelo centro. Subir, ofegante, as ruas de Potosí. Quando eu subia e me faltava o ar nosso de cada dia, eu pensava no cigarro, mas depois me lembrava da altitude e ficava bem aliviado. Fumantes são mestres em arrumar desculpas. No mirante, brinquei com seis crianças de jogar avião de papel. Agora, no café deste mesmo mirante, tendo o pôr-do-sol como confidente, tomo meu chocolate com leite. Fumo um cigarro com muito prazer e escrevo estas linhas, ainda com dúvidas se amanhã vou para La Paz.
Potosí - Bolivia
24/11/08
* Por fim, fui para La Paz na terça, vinte e cinco de novembro. Antes, com uma argentina, Paula, e Uli, um companheiro alemão que esteve uns dias em BH e achou a cidade insegura e violenta, fui conhecer, nas redondezas de Potosí, o lago Ojo del Inca. Voltamos e cozinhamos uma bela comida juntos. à noite, pus todos os meus personagens de/em acordo e, assim, pude viajar sossegado.

4 comentarios:

Maíra Vasconcelos dijo...

aahhhh.... só lembro dos nenens e de La PLata.. hehehihiehe...
bjos... saudades !!!!!!!!!!!!!!!!!!

fabiana nogueira dijo...

'ducarajo'!

Bruno Mateus dijo...

fico honrado com sua visita, fabi !! saudades de vc tbm, marmota..
um beijo..

maripimenta dijo...

Brunão, vejo que tem cozinhado bastante. Quero conversar mais com vc depois desses novos dotes. É delicioso viajar com vc por esse blog. Bendito seja a internet e tudo o que ela nos proporciona. Amém!

Te espero nesta cidade, que pra mim, mais que insegura e violenta, é incerta e barulhenta.

Beijos!