martes, 21 de diciembre de 2010

Instituições bancárias e outras neuroses

Por volta de 11:30, Dylan e Thomas conversam....

Dylan: - E aí, meu caro. Tudo bom?

Thomas: - Porra, chegando agora no trabalho? [risos]

D: - Nada, cheguei 10h30. Tive que ir ao banco resolver minha situação, agora tenho que abrir uma conta.

Thomas demonstra uma irritação súbita...

- Puta que pariu! Você é problemático demais. Por que não aproveitou e abriu uma? Deixa de ser velho, chato, ranzinza.

D: - Você parece nervoso, mantenha a calma. O banco me deu dor de cabeça. Não faz sentido eu encerrar a conta e, logo em seguida, abrir uma.

T: - Tudo bem, mas você poderia ter ido a outro banco então, né?

D: - Hoje? Não, não queria ficar o dia inteiro resolvendo isso. Vou fazer isso depois.

Em outro ataque de fúria, Thomas reage com mais palavrões...

- Puta que pariu! Você é complicado demais, cara. Mulher não gosta disso. [gargalhadas].

D: - Hoje não estou a fim de mexer com isso. Pode ser na semana que vem. Quero almoçar, ficar tranquilo. Não posso passar mais de 45 minutos em um banco. Meu organismo reage de uma maneira incrível, quase letal.

T: - Isso tudo é criação da sua cabeça. Psicológico, murrinha para não andar como pede o Sistema.

D: - Você está equivocado. A coisa é simples: só não fui hoje porque não preciso ter pressa para abrir uma porra de uma conta. Não posso correr demais, não posso ser apurado demais, se não acabo caindo e morrendo. A multidão passará ferozmente por cima do meu corpo, que será varrido como lixo para o canto da avenida...
 
Mostrando um assustador e violento descontrole, Thomas perde a paciência por completo, interrompe Dylan e termina o assunto gritando desesperado:

- Chegaaaaa.

miércoles, 15 de diciembre de 2010

Viva os torturadores! Viva o Brasil-sil-sil!

Em uma decisão inédita, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) condenou o Estado brasileiro por não ter investigado crimes cometidos pela ditadura militar (1964-1985) no combate à Guerrilha do Araguaia.

Matéria continua no R7.

Confira os comentários de Paulo Henrique Amorim no Conversa Afiada.

Pinochet, amigo íntimo de Nelson Jobim

lunes, 6 de diciembre de 2010

Aquele olhar

Me fascina seu olhar. Me encanta quando ele brilha, ofuscando qualquer sinal de beleza a sua volta. Transborda de seus olhos um sentimento absurdo, incontrolável. Desafia-me, pois bem sei o que neles esconde. De nada adianta recorrer a filósofos, astrólogos ou vagabundos iluminados. Eles não entenderiam. Assim como na vida, para você não há resposta. Eu soube disso naquela manhã quando nos cruzamos torpes pela calçada que ainda sente o peso dos nossos passos descompassados.

Seu olhar mostrou-me o indizível, o que nem Nelson Rodrigues conseguiu decifrar em sua incessante busca pelo desnudamento da alma. Coisa de um tolo apaixonado, seguramente diria um rufião melancólico. Não me importa, realmente. Naquela fração de segundo, vi a eternidade, voei ao som de Nessun Dorma e repousei, sorrindo, atônito, na nuvem ali cuidadosamente pincelada.

E agora, diante da realidade desses dias sem graça, a chuva cai, despretensiosa, borrando da minha memória aquela reveladora manhã.

*Texto de minha autoria originalmente publicado na Revista Ragga, edição de dezembro.