miércoles, 30 de diciembre de 2009

Um pouco de blues argentino



Pappo, Charly García e Botafogo interpretam a linda canção "Desconfio", no festival Cosquín Rock (eu seria leviano em afirmar o ano...). A música é de Pappo, compositor e grande guitarrista argentino (já tocou com B.B King), que morreu em fevereiro de 2005 ao cair de sua moto. Pappo ia pela estrada e seu filho, com um amigo na garupa, seguia o mesmo caminho. Por circunstâncias ainda desconhecidas, as motos se tocaram e Pappo caiu no asfalto. Nesse momento, foi atropelado por um Renault Clio que passava por ali. Morreu na hora.
Se alguém passar por esse blog, sugiro clicar e esperar carregar o vídeo. Os solos de Pappo e Botafogo garantem a visita. Podes crer! Como se diz na Argentina, ¡es un temazo!

viernes, 11 de diciembre de 2009



Menino errante agonizava no vazio
sangrava à toa
a carne maculada
pele suja, malfadada
a chaga aberta
a dor que perdura
o grito nunca liberta

Menino errante comia o sonho
mastigava e o engolia enfadonho
na lúgubre madrugada
arrastando a tonelada
da vida, da desgraça
enojada a rua o via
estremecida o vomitava

Menino errante agora ocupa o buraco
que lhe foi dado com alívio e descaso 
oh!, errante desgraçado
menino imundo
que do mundo já não faz parte
bem melhor que agora reparte
essa terra que nunca foi arte

Belo Horizonte
11/12/2009

miércoles, 2 de diciembre de 2009

O Orfeu das pranchetas, por Fabrício Carpinejar

Lindo texto de Fabrício Carpinejar publicado no blog do Juca Kfouri. Um pouco grande, mas vale a pena.
Link original: http://rolocompressor.zip.net


O ORFEU DAS PRANCHETAS
Fabrício Carpinejar

O Campeonato Brasileiro de 2009 escreve o derradeiro capítulo do livro "O Negro no Futebol Brasileiro", de Mário Filho, clássico de 1947 do irmão de Nelson Rodrigues.
O palco do épico curiosamente será o Maracanã neste domingo (6/12), no duelo entre Flamengo e Grêmio. No Maracanã, justo no estádio batizado de Mário Filho, o nome do escritor. Uma coincidência emocionante.
O protagonista é o mineiro Jorge Luís Andrade da Silva, o Andrade, ex-jogador do Mengo da geração vitoriosa dos anos 80, que formou uma das armações mais compactas e habilidosas do Brasil, ao lado de Zico e Adílio.
Andrade poderá ser o primeiro técnico negro campeão brasileiro. Foram raros, foram poucos os que regeram a casamata do estádio. Ele põe fim ao apartheid da última hierarquia do esporte. Até o exército foi mais justo antes.
Não há negros no comando dos nossos principais times. Existem preparadores físicos, assistentes, dirigentes. Mas nunca existiu um negro mandando numa grande esquadra, organizando taticamente o elenco, dando a palavra final sobre a escalação. É como se ele pudesse chefiar com a bola nos pés, não fora do campo. Como se o negro fosse um operário, vetado como engenheiro, proibido como arquiteto das emoções das arquibancadas. Como se relegasse ao negro o papel de ator, não permitindo seu desempenho como cineasta, barrando a função autoral e a inteligência operística.
Mesmo depois de Leônidas, Zizinho, Domingos da Guia, Didi, Garrincha e Pelé, o negro era um tabu como treinador dos maiores clubes. E pensar que a mudança demorou a acontecer nas planilhas. Dentro de campo, estava resolvida na década de 50. Segundo Mário Filho, o futebol passou por três grandes fases: 1900/1910 (elitização), 1910/1930 (exclusão de negros; Vasco é o primeiro time a adotá-los e lutar contra a discriminação) e 1930-1950 (ascensão social dos negros e liberdade racial).
Está caindo o último bastião do racismo no país. Acabaram as restrições.
Andrade é o Orfeu das pranchetas. Realizou uma revolução no vestiário, uma revolução de abrigo, só comparável à grandeza heroica de um Pelé fardado. Desde 2004, espera sua chance de efetivação no Flamengo. Já salvou o time da degola como interino, já foi suplente diante das demissões de Celso Roth, Joel Santana e Ricardo Gomes. Durante cinco anos, engoliu sapos, recompôs diplomaticamente suas frustrações e expectativas, aceitou passivamente os interesses das bolsas de valores. O folclore conta que Cuca o colocava para completar a barreira nos treinos, durante a cobrança de faltas.
Andrade é o principal personagem. Não será Petkovic ou Adriano. É ele. Com seu temperamento discreto, abalou a onipotência dos supertécnicos como Luxemburgo e Muricy, mostrando que altos salários não significam sucesso. É o gracioso urubu no meio das garças à beira do gramado. Abre passagem a uma nova geração de estrategistas das categorias de base. Indica que os responsáveis pela entressafra alcançam fartas colheitas. Não briga com a imprensa, não grita mais do que o normal, não arma segredos de Estado, não se escandaliza com as críticas. Difere do tom casmurro e embirrado de parte dos seus colegas e da histeria autoritária das estrelas de terno e gravata. Não é paranóico, não se vê perseguido e injustiçado nas coletivas. Tem samba no sangue, uma alegria mansa, um amor antigo pelas redes. É resolvido o suficiente para suportar qualquer pressão. Escuta mais do que fala. Porta-se com a audição de um juiz, longe da tradicional oratória de um promotor. Não é por acaso que faz acupuntura nos ouvidos.
Ao assumir o comando em julho, Andrade retirou o rubro-negro de baixo da tabela, conseguiu um aproveitamento de 72,5% em 17 jogos.
Mário Filho deve encontrar agora uma posição confortável no túmulo. Graças a Andrade, lavamos definitivamente o pó-de-arroz da pele.

miércoles, 11 de noviembre de 2009

Dica de filme: The Blues Brothers


Um ótimo filme com muito blues. Como se não bastasse, ainda tem a participação de Ray Charles, Aretha Franklin e James Brown, entre outros. Vale a pena ver...

jueves, 5 de noviembre de 2009

A hecatombe de Sorín

Há um ano, no dia 04 de novembro, começava minha viagem de cinco semanas pela América Latina. Ontem, no mesmo 04 de novembro, vi(vi) um dos momentos mais emocionantes da história do Cruzeiro, do Mineirão e da minha como torcedor. A despedida de Juan Pablo Sorín foi uma hecatombe, um evento para os cruzeirenses que ali estavam nunca mais se esquecerem. E mais, para aprenderem a homenagear um ídolo, alguém que vestiu a camisa como se fora sua segunda pele. Sim, isso é muito clichê. E mais clichê ainda é o ditado “com o coração na ponta da chuteira”. Dane-se, Sorín é merecedor de todos esses clichês. Ontem, quando o cabeludo pegou o microfone e, emocionado, sem saber muito o que dizer, flamejou os braços argentinamente e começou a cantar: “eu sou Cruzeiro, é um sentimento que não pode parar”, eu me lembrei daquele jogo em 1995 – Cruzeiro 5 x Botafogo 3 – que fui com o meu cumpadre. Me lembrei dele e vi, como numa bola de cristal, eu e Renê, meu afilhado, nas arquibancadas do Mineirão, como eu costumava fazer com o pai dele. Meus olhos se inundaram de lágrimas, salpicadas por uma porrada de sentimentos: alegria, saudade, comoção e a certeza de que os meus heróis nunca morrerão.

Belo Horizonte
05/11/09

miércoles, 4 de noviembre de 2009

Valeu, Sorín...

Obrigado por vestir o nosso manto com tanta paixão, amor e raça. Agora seu sangue é azul, meu caro, assim como o seu coração. E, como você certa feita cantou:
"Yo soy Cruzeiro
es un sentimiento
que no puede parar".



jueves, 29 de octubre de 2009

Cê tá pensando que eu sou loki, bicho?

Algumas fotos com Arnaldo Baptista e sua mulher, Lucinha Barbosa, após a entrevista que fiz com ele em setembro deste ano.
Fotos: Bruno Mateus e Lucinha Barbosa

Crédito: Bruno Mateus
Lucinha Barbosa
Lucinha Barbosa
Lucinha Barbosa
Bruno Mateus
Bruno Mateus

martes, 20 de octubre de 2009

sábado, 3 de octubre de 2009

Jequitibá

Fotos: Bruno Mateus





miércoles, 23 de septiembre de 2009

The Killer...

Depois de Chuck Berry, no último domingo foi a vez de ver Jerry Lee Lewis. Para um grande fã de rock and roll dos primórdios, como eu, ter visto essas duas figuras históricas marca um retorno à uma época em que vivi. Pelo menos em sonhos. Fui com meus pais, o que tornou o show ainda mais inesquecível. Além de grandes rocks, como Great Balls of Fire e Whole Lotta Shakin' Going On, Jerry Lee tocou dois lindos blues. Um deles é este do vídeo abaixo, de um show de 1983. No dia 29 próximo, The Killer completa 74 anos.
Long live rock and roll!!! Long live Jerry Lee Lewis!!!

miércoles, 9 de septiembre de 2009

O pássaro e o moço

Aquele pássaro era muito curioso. Era o mais desconfiado da sua turma. Sempre quando ele voava e passava por um certo lugar, rodeado de montanhas de veludo, sua vontade era de parar e conversar com o jovem que lá estava dependurado numa cruz, como se dormira os mais lindos dos sonhos. Mas passava sempre direto. Sempre. Até que a curiosidade reclamou à sua alma e ele não pôde evitar: teria, para livrar-se desse peso, que declinar voo e trocar meia dúzia de palavras com o rapaz. O pássaro firmou-se assustadoramente ansioso à esquerda do jovem. Teve medo de acercar-se, mas mesmo assim o fez. Notou que o moço não estava ferido e tinha os olhos fechados. Talvez se sinta confortável, parece dormir tão profundo, pensou. Mas ele não dormia, e sabia que o pássaro estava ali com seus olhos amendoados e uma angústia terrivelmente notável. Como há muito não fazia - bem verdade fez pouquíssimas vezes desde que o pregaram num pedaço de madeira para nunca mais, em hipótese alguma, nem de morte de mão ou pai, poder descer de lá, abriu os olhos. Quando ele abriu seus tristes olhos de papel, viu o pássaro, que o mirava com igual tristeza. Ninguém falou nada, apenas entreolharam-se durante poucos segundos. Isso não importa, esses poucos segundos valeram mais que a eternidade. Ora, quando o pássaro levar a areia, grão a grão, de um lado a outro do oceano, dar-se-á conta que isso é só o começo da eternidade. Pois estavam mirando-se naquela tarde de céu de cimento, quando, sem que nenhuma palavra fosse dita, o rapaz, esgotado, chorou. Lágrimas de sangue. Se a tristeza tivesse que ser uma cor, ela seria vermelha, rubra. O pássaro perguntou ao jovem: Por quê choras as mais lindas lágrimas que eu jamais vi com esses olhos desconfiados? O moço não falou nada, mas a resposta estava no olhar que a alma daquele ordinário pássaro recebeu tal qual uma martelada. Se deu conta que era horrivelmente penoso e injusto para aquele rapaz. Aquele rapaz, que se pudesse descer, correria feito bobo por aquele pasto. Após alguns segundos, o pássaro tomou rumo de casa; o jovem fechou os olhos. Quando a lágrima cor de tristeza deslizou sobre toda a face do pobre moço e explodiu, rubra, pesada como cobre, naquele pasto que a chuva voltará a beijar, o pássaro sentiu devastadora tristeza, um choro esmagado na alma.

Buenos Aires
18/09/09
En la terraza. Se puso fresco...

martes, 1 de septiembre de 2009

Notícias de cá

Há muito não venho por aqui. Certo é que não tenho nenhum compromisso com este espaço. Escuto Sui Generis. Tenho cigarros à minha frente. Não quero fumar. Pituca acaba de chegar. Me lembro que tenho três filmes para revelar. Fui ao show de Chuck Berry. Grande! Tenho duas multas a pagar. Vida de adulto é complicada. Chata. Agora até faço barba com creme de barbear. Tenho lido pouco. Estou ansioso para poder voar. É um desejo antigo. Um sonho.

Belo Horizonte
01/09/09

miércoles, 12 de agosto de 2009

Você já foi ao espelho, nêgo? Não?! Então vá! (parte II)


Tive vontade de tirar a barba. Me enfiei no banheiro, coloquei 'The dark side of the moon' para tocar e pronto: comecei a fazer minha terapia. A cada triste fio de cabelo podado, aquele Bruno ordinário e idiota também era decepado. Saí do banheiro com a cara limpa, minha mãe nem me reconheceu. Voltei, olhei de novo para o espelho e vi muita esperança na minha cara. Imediatamente, saí para comprar outra igual.

Belo Horizonte
12/08/09

domingo, 9 de agosto de 2009

Texto publicado na Folha de São Paulo do dia 07/08/09, quando passou a vigorar a lei antifumo na capital paulista. A Folha convidou duas pessoas - uma contra e outra a favor - para escreverem um pequeno texto sobre o tema. Coloco aqui o texto de quem é contra...

As freiras feias sem Deus

LUIZ FELIPE PONDÉ
COLUNISTA DA FOLHA

O QUE MOVE as pessoas, em meio a tantos problemas, a dedicar tamanha energia para reprimir o uso do tabaco? Resposta: o impulso fascista moderno.
Proteger não fumantes do tabaco em espaços públicos fechados é justo. Minha objeção contra esta lei se dá em outros dois níveis: um mais prático e outro mais teórico.
O prático diz respeito ao fato de ela não preservar alguns poucos bares e restaurantes livres para fumantes, sejam eles consumidores ou trabalhadores do setor. E por que não? Porque o que move o legislador, o fiscal e o dedo-duro é o gozo típico das almas mesquinhas e autoritárias. Uma espécie de freiras feias sem Deus.
O teórico fala de uma tendência contemporânea, que é o triste fato de a democracia não ser, como pensávamos, imune à praga fascista.
A tendência da democracia à lógica tirânica da saúde já havia sido apontada por Tocqueville (século 19). Dizia o conde francês que a vocação puritana da democracia para a intolerância para com hábitos "inúteis" a levaria a odiar coisas como o álcool e o tabaco, entre outras possibilidades.
Odiaremos comedores de carne? Proprietários de dois carros? Que tal proibir o tabaco em casa em nome do pulmão do vizinho? Ou uma campanha escolar para estimular as crianças a denunciar pais fumantes? Toda forma de fascismo caminhou para a ampliação do controle da vida mínima. As freiras feias sem Deus gozariam com a ideia de crianças tão críticas dos maus hábitos.
A associação do discurso científico ao constrangimento do comportamento moral, via máquina repressiva do Estado, é típica do fascismo. Se comer carne aumentar os custos do Ministério da Saúde, fecharemos as churrascarias? Crianças diagnosticadas cegas ainda no útero significariam uma economia significativa para a sociedade. Vamos abortá-las sistematicamente? O eugenista, o adorador da vida cientificamente perfeita, não se acha autoritário, mas, sim, redentor da espécie humana.
E não me venha dizer que no "Primeiro Mundo" todo o mundo faz isso, porque não sou um desses idiotas colonizados que pensam que o "Primeiro Mundo" seja modelo de tudo. Conheço o "Primeiro Mundo" o suficiente para não crer em bobagens desse tipo.
O que essas freiras feias sem Deus não entendem é que o que humaniza o ser humano é um equilíbrio sutil entre vícios e virtudes. E, quando estamos diante de neopuritanos, de santos sem Deus, os vícios é que nos salvam. Não quero viver num mundo sem vícios. E quero vivê-lo tomando vinho, vendo o rosto de uma mulher linda e bêbada em meio à fumaça num bistrô.

Luiz Felipe Pondé é colunista da Ilustrada

jueves, 16 de julio de 2009

Há torcidas e torcidas. Algumas estão acostumadas com títulos e glórias de seus clubes. Outras aceitam o que lhes cabe: serem coadjuvantes na história. Digo isso, caro leitor, pelo recente acontecimento futebolístico que movimentou Belo Horizonte. Cruzeiro e Estudiantes-ARG decidiram, ontem à noite, quem levaria o caneco da Copa Libertadores 2009. Como já sabemos, deu Estudiantes. Mas não quero aqui tratar do jogo. Quero comentar a atitude de mendicância da torcida atleticana. Ora, eles estavam com o cu na mão! Mas tenhamos compaixão, sejamos solidários! Imagine-se na situação de um atleticano, não é nada fácil. Rezar e fazer vodu já não basta. Há que ir para porta de hotel implorar e babar desespero, mostrando as mazelas do mais patético e medíocre torcedor. Com a bandeira no carro de Bombeiros em La Plata, o Atlético e sua torcida não entram para a história pelas suas próprias façanhas, mas, sim, porque um argentino se sensibilizou com a causa da torcida-pedinte. Aquela bandeira transmite a seguinte mensagem: Obrigado, Estudiantes. Vocês fizeram o que nós nunca seremos capazes de fazer: brilhar pela nossa própria grandeza como uma genuína e linda estrela.

Belo Horizonte
16/07/2009

martes, 14 de julio de 2009

Long live rock and roll !!!

Sei que foi ontem, mas tudo bem...

“Se você tentasse dar outro nome ao rock ‘n’ roll, você poderia chamá-lo de Chuck Berry” – John Lennon



jueves, 28 de mayo de 2009

Ontem, na fila para entrar na geral do Mineirão, vi, ao meu lado, um garoto vestido humildemente com um casaco de fina lã. Eu poderia arriscar que ele tem 11 anos. O menino estava com seu pai e lembrava um certo Bituca na infância de Três Pontas. Um olhar assustado, desnorteado e inseguro inundava seus olhos cor de jabuticaba. O Mineirão, já do lado de fora, estava lotado. Todos cantando o hino do Cruzeiro, prevendo resultados... E lá estava o menino, com as mãos de seu pai nos ombros para dar-lhe conforto e tranquilidade, olhando para tudo e todos como quem vê uma grande novidade. Ele tinha os olhos esbugalhados, disso eu me lembro bem. Não resisti e lhe perguntei se era a primeira vez que ia ao Gigante da Pampulha. Tímido, me disse que sim. Quer dizer, ele não falou nada, só balançou a cabeça. E ainda é aniversário dele, disse o pai, orgulhoso. Se a mãe souber que estamos aqui, ela vai me matar, emendou o patriarca, com sorriso moleque, feliz em fazer uma travessura que ele e seu filho nunca mais se esquecerão. Eu fiquei feliz demais! Qual é o seu nome, perguntei, eufórico. Era Pedro Henrique. Lhe dei os parabéns como se fosse meu grande amigo, enchi o peito e proclamei para Belo Horizonte escutar: "Essa vitória de hoje é para o Pedro Henrique!" Ele sorriu, e vi, no fundo dos seus esbugalhados olhos, que sua alma tremia de felicidade e ansiedade. Passamos pela catraca e nos perdemos. Não os vi mais. O Cruzeiro ganhou a partida por 2 a 1 e, quando o juiz apitou o final do jogo, uma vontade de abraçar pai e filho me veio como um soco surdo no peito...

Belo Horizonte
28/05/09

lunes, 11 de mayo de 2009

Chicó e a atleta fumante

Após dar carona ao camarada Daniel, cheguei em casa pesando uma tonelada de tranquilidade. Cheguei cedo, no horário que eu gosto. Passei pela cozinha, tomei limonada. Fui dar boa noite a Chicó, meu papagaio. A verdade é que nos damos muito bem. Conversamos sobre coisas da vida, e até sobre Beatles. Hoje tive que dar-lhe uma dura. Chicó tem gritado muito e isso pode incomodar os vizinhos. O que irrita muito minha mãe. Minto, não a irrita, ela tem medo que algum vizinho denuncie os gritos moleques de Chicó. A Polícia Florestal pode aparecer, já que há dois criminosos aqui. Chicó, pelos seus gritos travessos que perturbam a vizinhança, e eu, cúmplice e colaborador do crime. Pituca, às vezes, pensa seriamente em devolvê-lo à antiga dona. Pobre, Chicó... Eu disse a ele que se comporte, que não grite tanto. Caso contrário teríamos que nos despedir. Nos conhecemos há cinco meses, quando voltei de Buenos Aires. Temos uma boa amizade.
Bem, cheguei ao meu quarto, liguei o computador. Música, claro. E foi I'll keep it with mine. Porra, merece um cigarro na varanda, pensei. Quando lá cheguei, vi minha vizinha sentada na bicicleta ergométrica para exercitar-se. Resolvi ater-me à canção que Dylan cantava para mim. Quando acendi o cigarro, minha vizinha, sentada naquela bicicleta ergométrica, fez o mesmo, enquanto se excercitava como uma dedicação olímpica impressionante.

Belo Horizonte
11/05/09


* Dois dias depois, Chicó foi devolvido à antiga dona. Ele me disse que sentiria minha falta, que se lembraria das nossas conversas. Se recordaria, também, de quando abaixava a cabeça e eu lhe fazia afagos enquanto escutávamos Beatles, que ele tanto gostava. De quando eu lhe dava doce de leite e pé-de-moleque... quando ele sentia o gosto na boca, fazia um barulhinho tão terno que enchia minha alma de doçura.

martes, 21 de abril de 2009

Assino embaixo !!!

Texto de José Roberto Torero, colunista da Folha de São Paulo, publicado no dia 14/04/09. Torero é um dos poucos jornalistas que têm tratado o assunto com sensatez e lucidez. O resto é esquizofrenia e histeria midiática.
Vale a pena ler!

Texto original: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1404200916.htm



Ronaldo, o brahmeiro

Comparar as heroicas voltas de Ronaldo ao futebol com o suor da cerveja é chamar o espectador de estúpido


BEBERRAZ leitor, alcoofilista leitora, vocês viram o comercial do Ronaldo? O comercial da Brahma? Para quem não viu, faço um resumo: ele aparece driblando vários obstáculos, faz um trocadilho entre o suor dele e o suor da cerveja e acaba dizendo, com um copo na mão, que é um "brahmeiro".
Como assim? Um atleta importante fazendo comercial de cerveja? Ou pior, um atleta ainda gordo, em recuperação, fazendo comercial de cerveja? Não entendi. E não entendi porque me parece uma propaganda ruim para os dois.
Para a cerveja, porque eu, vendo o comercial, penso: "Poxa, cerveja engorda pra caramba!". Para o jogador, porque mostra que ele não é um atleta sério. É um cara que bebe mesmo ainda estando longe da sua melhor forma.
A Brahma e Ronaldo já estiveram juntos em outros comerciais. É uma parceria antiga, desde que ele tinha 17 anos. Mas ela já foi mais sutil e inteligente. Lembro que houve uma propaganda chamada "Guerreiro" em que apenas aparecia o rosto do jogador e havia um bom texto ao fundo. Outra trazia Ronaldo como um toureiro, driblando um touro várias vezes até que o vencia e abria a garrafa nos chifres do animal.
Mas este novo comercial está bem abaixo dos anteriores. Agora há uma ligação direta entre futebol e álcool. E obviamente os dois não combinam. A campanha ainda teve o azar de vir logo depois do anúncio de aposentadoria (talvez compulsória) de Adriano, que tem seu nome associado a problemas com bebidas. Estou longe de ser uma virgem vestal, defensor da pureza absoluta ou abstêmio radical. Até sou a favor da liberação de drogas leves (o que existe em parte, já que as bebidas alcoólicas são drogas leves), mas jogador fazer propaganda explícita de cerveja não dá. Passa da conta.
A legislação permite que as propagandas de bebidas abaixo de 13 graus GL (Gay-Lussac) sejam exibidas em qualquer horário. Por isso é que vemos comerciais de cervejas e dessas vodkas ice a toda hora. Porém, em maio de 2007, Lula assinou um decreto que classificou como alcoólica toda bebida com mais de 0,5 grau GL. Só que, inexplicavelmente, esse decreto não restringiu a propaganda de cerveja.
Voltando ao comercial, que foi criado pela agência África, no texto o atacante afirma que tem orgulho de "cair e se levantar". O redator não devia estar sóbrio quando o escreveu. É uma frase muito infeliz. Uma piada pronta. Tanto que, na mesma hora, o amigo com quem eu via o jogo comentou: "Cair e se levantar não é grande coisa. Qualquer bêbado consegue isso". E comparar o esforço heroico de Ronaldo para voltar três vezes ao futebol com o suor da cerveja é chamar o espectador de estúpido. É fazer troça da fantástica recuperação do jogador, que deveria falar "Eu sou artilheiro" e não "Eu sou brahmeiro".
A publicidade brasileira, que já foi das melhores do mundo, vem piorando nos últimos anos. Mas, agora, se superou. Acho que, pelo menos, para desencargo de consciência, esta nova propaganda deveria vir com um daqueles avisos no final, algo do tipo: "O Ministério da Saúde adverte: Cerveja dá barriga e faz você confundir mulher com similares".

lunes, 6 de abril de 2009

Se eu pudesse viver minha vida novamente...

Hoje caminhei feito táxi por Buenos Aires. Tinha algumas coisas a fazer. Havia muita gente na rua, muita criança na avenida Corrientes. Estamos nas férias de inverno, me parece que a criançada tem se divertido bastante: teatro, cinema, música, podem até escolher.
Havia muita gente na rua hoje.
Gente desconfiada, preocupada; gente que não se importa com nada e gente com cara de sapo. Mas, veja, é engraçado.
Havia muita gente na rua hoje, dia de céu medroso, e não vi nenhuma alma. Vi carcaças, máquinas bem programadas.
Ora, mas as crianças não querem nem saber... querem se divertir, gozar de um mundo que é só deles.
Tive vontade de ser criança e brincar...
De novo.

Buenos Aires
06/08/08

viernes, 27 de marzo de 2009

The Ballad of John and Yoko...

Para lembrar os 40 anos do casamento de John Lennon e Yoko Ono, o Hilton de Amsterdã realiza, desde o dia 24 de março, uma exposição com 40 imagens do casal, 16 delas inéditas. O hotel foi o único a aceitar recebê-los, já que, naquela época, Lennon estava envolvido em polêmicas por sua relação com drogas. Além da exposição, os curiosos poderão conhecer a suíte 702, onde Lennon e Yoko passaram uma semana trancados recebendo jornalistas e artistas para promover a paz mundial e o fim da Guerra do Vietnã. O protesto ficou conhecido como Bed-in for peace. Neste quarto foi feita a famosa gravação de “Give Peace a Chance”. A mostra “Da Holanda com paz”, que é gratuita, vai até dia 29 deste mês e já recebeu mais de mil visitantes só nos dois primeiros dias. Bruno Mateus
27/03/09

miércoles, 18 de marzo de 2009

Versão em espanhol de "Errata", publicado no dia 02 de fevereiro

Sé que en este espacio está registrada la promesa de escribir sobre el fin de mi viaje. Discúlpeme. Quién lo prometió no fui yo, sino aquél editor que hay dentro mío. En un acto autoritario y de extrema fuerza bruta, decidió -por sí solo- que yo tenía que hacer lo que él quería. Puto! Ignoró, con inigualable desprecio, cualquier otra decisión que por casualidad pudiera haber sido tomada. Quién se piensa que es este tipito? El solo hecho de hospedarse en mi cuerpo no le da la importancia del tamaño de un transatlántico. Pasó los límites, jamás había sido tan atrevido. Ah, no se imagina lo que me molestó el tipo. Dictadorcito asqueroso! El desgraciado me despertaba, perturbaba mi sueño para hacerme acordar que la promesa que había hecho él, la tenía que cumplir yo. Pero, como dijo un conocido hincha de ojos azules de Fluminense, aún callada la boca, queda el pecho. Ahora me vengo, soy el guasón de la baraja. Me río, le hago morisquetas, salgo desnudo a la calle, tomo la lluvia y regalo carcajadas con infantil y loca satisfacción por haberlo mandado a la mierda."
P.S: Gracias por las correcciones...

martes, 10 de marzo de 2009

Para alegria dos fãs, turnê marcará o retorno do "Chamego de menina" aos palcos


Este espaço - que já foi, merecidamente, de Ângela Bismarck -, continua a promover e valorizar os verdadeiros artistas do Brasil. São, acima de tudo, figuras inteligentes e com muito a dizer. Hoje é a vez da talentosa Viviane Araújo que, além de cantora, é atriz, empresária, modelo e, como bem planeja, apresentadora de TV. A campeã do carnaval do Rio com a Salgueiro anunciou hoje que sua banda de forró, "Chamego de menina", fará a tão esperada turnê pelo Nordeste. A musa da Sapucaí não confirmou as datas, mas disse que será ainda neste primeiro semestre. A notícia foi recebida com muita empolgação pela classe artística e, sobretudo, pelos milhares de fãs da banda, que já tem um lugar reservado no Olimpo da música tupiniquim. Recentemente, Viviane Araújo foi escolhida a artista mais influente deste nosso breve século, deixando para trás nomes respeitadíssimos como Mulher Pêra, Lacraia e Gretchen.

Belo Horizonte
10/03/09

lunes, 9 de marzo de 2009

O que será ?

Ele acabou de visitar-me. Justo hoje, quando eu quero mesmo é estar sozinho. Vai saber o motivo da visita! Sim, porque da última vez que conversamos Ele não foi nada gentil comigo. Ó, pobre de mim. Por quê és tão rancoroso? Por quê sempre deixas um pouco de culpa e um par de contas para eu pagar?

Belo Horizonte
23/01/09
En la terraza de mi mundo...

miércoles, 4 de marzo de 2009

Lua bonita

Não foram muitos os minutos. Eu cheguei sem esperar nada e, quando vi, estavas à minha frente. Despindo-se ante meus olhos atônitos, quase bobalhão. Tive vontade de chorar. Vontade mesmo era de beijar-te, tomar-te em minhas mãos. No meu quarto, dormir com você para sonhar felicidade e ninguém, ninguém poderá nos acordar. Sonharemos para sempre. Estaremos em lugares que, despertos, nunca encontraremos. Andaremos em bicicletas de cristal, poderemos voar. Mas se não posso ter-te, leve-me. Quando ordenares, eu vou.
Ah, se tu não fosses casada, eu preparava uma escada para ir no céu te buscar...

Belo Horizonte
18/02/09

viernes, 27 de febrero de 2009

Prece cósmica

Tô buscando uma porrada de respostas, recorrendo a outra porrada de pessoas que possam me ajudar. Teólogos, astrônomos, bêbados e loucos do centro da cidade cuspindo blasfêmias. Escuto a todos com concentração acadêmica. Quase com auto-piedade.
Continuo rezando para que o disco voador venha me buscar.

Belo Horizonte
27/02/2009

viernes, 20 de febrero de 2009

Quanta sapiência !!


Uma das figuras mais inteligentes do Brasil, Ângela Bismarck agora ataca de cantora. Ela, certamente, bota Elis Regina, Ella Fitzgerald e Janis Joplin no chinelo. Dona de linda voz e de uma sabedoria impressionante. É importante ressaltar o dinamismo e versatilidade dessa loiraça de beleza incomum. Você está preparado para mais uma revolução no mundo pop ?

"Eu ainda não encontrei o caminho do que eu quero, né? Se é country, se é funk, se é samba... se é bossa nova. Isso aí eu vou me descobrindo com o tempo. Mas o que eu quero é cantar, né ?"

Acho importante divulgar as idéias e frases extremamente relevantes e inteligentes dos nossos artistas. Podem ter certeza de que as mulheres-fruta terão espaço garantido aqui. Viva a sabedoria !! Viva a cultura!!

Belo Horizonte
20/02/2009

jueves, 12 de febrero de 2009

A los chicos...

Ao lado de onde eu moro há uma casa tomada. Em San Telmo, bairro que me hospedou desde o primeiro dia, há uma porção delas. São casarões ocupados por famílias, que chegam e se apropriam do espaço. Ao lado da pequena varanda do meu quarto está a da família dos meus amigos. Com varal humildemente improvisado e tudo. Ao todo são seis crianças. Três são os homens. Michael, de uns doze anos, o outro que eu não me lembro do nome, deve ter onze. Posso muito bem inventar um nome para meu amigo, mas a importância que dou a isso é quase zero. E também Dante, que vive neste mundo há cinco anos. Outro dia encontrei Michael quando fui comprar cigarros. Me pareceu meio ressabiado, querendo dizer algo. Perguntei se estava tudo bem. Respondeu que sim, mas nem ele acreditou no que havia dito. O garoto pele-de-neve tinha duas garrafas de cerveja e uma de refrigerante numa sacola branca que suas mãos seguravam com certo incômodo. Antes de nos despedirmos, falou que era aniversário de seu pai, mas não ligaria porque estava chateado com ele. Consequência de um telefonema que nunca aconteceu naquele dia em que todos que conhecem Michael lhe desejaram felicidades. Está marcado no calendário e assim se procede. Ele estava aborrecido, confessou que ligaria dias depois. Nos despedimos e fui, caminhando pela Avenida de Mayo - onde "conheci" Roberto Arlt, para o hostel gozar mais uma noite de trabalho. O garoto que deve ter onze anos, esse mesmo, o que não sei o nome, encontrei faz pouco tempo. Ele havia ido comprar cerveja e refrigerante com a mesma sacola que Michael segurava com pouca vontade. Perguntei como estavam as coisas, ele me disse que tudo corria muito bem. Contou que Michael estava de castigo, por isso teve que cumprir a missão que outrora era do pele-de-neve. Motivo da reclusão: ele não havia feito os deveres da escola. Fiz cara de "isso acontece" e nos despedimos.
Dante, o de cinco anos, é um camarada muito engraçado. Nestes últimos tempos, tem me cumprimentado em português. Tudo bem, pergunta um orgulhoso Dante, feliz em mostrar que pode, com incrível doçura, falar meu idioma. Ele sempre me pede biscoito. Ou fruta. Quando falo que não tenho, o garoto sorri e pergunta: "E dinheiro, muito menos?". Hoje nos encontramos na varanda. Em português saudou-me. Perguntou se tinha biscoito. Eu disse que não. Ele viu que eu tinha algo nas mãos. Perguntou-me o que era. Argila, afirmei despretensiosamente. Dante arregalou os olhos de tanta surpresa, como quem concebe algo extraordinário, e sentenciou: "Isso eu nunca provei".


Buenos Aires

08/11/2008

lunes, 2 de febrero de 2009

Errata

Sei que neste espaço está registrada a promessa de escrever sobre o fim de minha viagem. Desculpe-me. Quem prometeu não fui eu, mas aquele editor-chefe que há dentro de mim. Num ato autoritário e de extrema força bruta, decidiu, por si só, que eu tinha de fazer o que ele queria. Sacana! Ignorou, com inigualável desprezo, qualquer outra decisão que porventura fosse tomada. Ora, quem essezinho pensa que é? Só o fato de hospedar-se em meu corpo não lhe confere a importância do tamanho de um transatlântico. Ele passou dos limites, nunca havia sido tão petulante. Ah, você não imagina o quanto ele me incomodou! Ditadorzinho asqueroso! O desgraçado me acordava, perturbava meu sono para lembrar-me que eu tinha que cumprir a promessa que ele(!) havia feito. Mas, como disse aquele conhecido torcedor de olhos azuis do Fluminense, mesmo calada a boca, resta o peito. Agora dou o troco, sou o coringa do baralho. Rio, sacaneio, saio pelado na rua, bebo a chuva e gargalho com infantil e louca satisfação por tê-lo mandado à merda.


Belo Horizonte
02/02/2009