martes, 18 de enero de 2011

A ira de Josué, o herói cansado

Outro dia vi num programa de TV uma cena bárbara, de fúria. Uma situação constrangedora era o pano de fundo. Pais disputavam algumas provas, uma espécie de gincana, formando duplas com seus respectivos filhos. O apresentador anunciava, uma a uma, as equipes. “Josué e o filho Eduardooo!”, gritava, enquanto pai e filho levantavam e balançavam os braços, bradando coisas do tipo: “Nós vamos ganhar!”, fazendo brotar um sorriso na cara rechonchuda de Eduardo. 

Não me recordo precisamente, mas acho que Josué e Eduardo eram da equipe amarela. O que me lembro bem é o quão constrangedora a prova era. O apresentador gritava “valendooooo!”, e os aguerridos pais, vestidos com um short colado nas pernas e uma espécie de maiô – ou coisa que o valha –, saíam de seus lugares, corriam até uma escada, subiam uns poucos degraus, mergulhavam na piscina cheia de um líquido verde gosmento, resgatavam alguma coisa que lhe valiam pontos, voltavam e entregavam aos seus rebentos, que pulavam de alegria ao receber as bolinhas. 

No primeiro mergulho, os pais saíram encharcados do líquido que os fazia escorregar, patinar pateticamente. Caindo como um bêbado, Josué descia os degraus de bunda, rindo de seu próprio número, estabacando como uma jaca no chão e se arrastando para conseguir chegar na frente dos adversários. Naquele momento, Eduardo - também chamado de Du pela família - tinha uma cara danada de biscoito feliz, os olhos quase estouravam de tanta felicidade. O físico de seu pai já não permitia que ele se expusesse de tal maneira. Com aqueles trajes então... A barriga dava contornos no ridículo maiô e as pernas já lhe faltavam. Mas ele rastejava. Eduardo só queria que o pai vencesse a prova. Só isso, para então, no dia seguinte, chegar à escola contando aos amigos. O apresentador, comovido com a entrega e o esmero de Josué, mal conseguia completar as frases. “Olha o paizão do Eduaaaaarrr!”, gargalhava. Josué deve ter uns 42 anos, já perdeu parte do cabelo e trabalha numa concessionária de motos no interior de São Paulo. 

A cada risada de filme de terror do apresentador, Josué era tomado por uma raiva incontrolável, um desprezo por cada ser humano, onde quer que ele habite. Sentindo em cada centímetro de seu corpo cansado um desejo irremediável de acabar com tudo aquilo, ele não se censurou. Não dessa vez. Invadiu a área do adversário, deu-lhe uma rasteira, se levantou, babando, como se comemorasse um gol, e berrou: “Vai tomar no cu!” Aliviado, teve a certeza de que deveria ter feito isso há muitos, muitos anos.

miércoles, 12 de enero de 2011

Pense no Haiti, reze pelo Haiti

Os haitianos farão um minuto de silêncio às 16h53 de hoje (19h53 horário de Brasília) para marcar o momento exato em que um terremoto de 7 graus de magnitude atingiu o país, em 12 de janeiro de 2010.

Um ano depois do terremoto, o país continua em ruínas. 

"Pense no Haiti / Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui / O Haiti não é aqui"