martes, 2 de octubre de 2012

Crônica de uma saudade



Era uma tarde quente da primavera de 1995. Tarde de Mineirão: Cruzeiro e Botafogo. Entrei no Santana prata, me lembro bem, e uma fita cassete tocava baixinho no som... Ele usava óculos escuros, estampava um sorriso bonito que só ele sabia sorrir. Alguns jogos são especiais pelo resultado, pelo título; outros, por um garoto de olhos arregalados cor de jabuticaba ou por um choro que escapa após a derrota. Aquele Cruzeiro e Botafogo nunca sairá da minha memória por um abraço.

Com trinta minutos de peleja, já ganhávamos por dois a zero. Só que o futebol, amigos, é o mais imprevisível e atrevido dos esportes. Tomamos uma virada obscena: em dez minutos, o time de Túlio Maravilha estufou as redes do nosso arqueiro em três impiedosos tentos. O estádio, por vezes, guardava um silêncio tamanho que eu podia escutar o bater das asas dos pássaros curiosos que sobrevoavam aquele suspense. E ele lá do meu lado, xingando, vibrando, pedindo raça e atenção ao time. Eu não sabia muito da vida, tinha só 12 anos. Tinha era muitos sonhos e outras tantas perguntas na cabeça. No segundo tempo, castigamos o goleiro adversário uma, duas, três vezes. Ganhamos a partida por 5 a 3. No gol que decretou nossa vitória, nos abraçamos eufóricos. Um abraço aliviado, cúmplice. Desses que se dá de olhos fechados, bem apertado. E tomamos um banho de alguma coisa que jogaram para o alto. Não sei se foi cerveja, se foi refrigerante. Nunca vou me esquecer daquele dia.

Hoje à tarde, vasculhando na internet, cheguei, meio que por acaso, ao resumo do jogo. Não pude deixar de notar a data: primeiro de outubro. Exatos 17 anos me separam daquele abraço, daquela tarde na Pampulha. De lá pra cá, algumas coisas não mudaram - continuo não sabendo muito da vida e as perguntas ainda rondam minha cabeça. Mas Jairzinho não está mais aqui. Seu grito de gol foi silenciado. Não vejo mais aquele sorriso, não o vejo mais nas arquibancadas.

E a saudade agora é de apertar o peito, assim como nos apertamos num abraço incontido naquela tarde de primavera.