domingo, 26 de febrero de 2012

De quem é a culpa? É do Lula!


“É justo dizer que no revólver que matou Jean Charles estão também as digitais do PT e de seu governo”. Assim escreveu Clóvis Rossi, colunista da Folha, sobre a morte do mineiro Jean Charles em Londres, em julho de 2005. Jean, como você deve saber, foi covardemente assassinado pela polícia inglesa, despreparada, intolerante, burra, equivocada, sedenta em dar respostas para uma Inglaterra que vivia sob o medo – lamentavelmente, experimentando, do modo mais bruto, com bombas em metrô e o cheiro de medo no ar, as consequências de se aliar a um país que tem uma política internacional como têm os Estados Unidos. Jean imigrou para a Inglaterra no período do governo FHC. O que Lula e o PT têm a ver com o assassinato dele, cara pálida?

Lembro-me de minha mãe comentar sobre um texto de Francisco Dadut, de julho de 2007. Francisco começou assim: “Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, ‘GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS’. O assassino não é só aquele que enfia a faca, mas o que, sabendo que o crime vai ocorrer, nada faz para impedi-lo. O que ocorreu não pode ser chamado de acidente, vamos dar o nome certo: crime”. Lula e seu governo, naquela ocasião, eram, segundo o brilhante Dadut, os responsáveis pela morte das mais de 200 pessoas no acidente da TAM. 

Na última sexta-feira, o apresentador e âncora do Jornal da Band, Boris Casoy – sim, aquele que espinafrou os garis e o áudio vazou ao vivo – relacionou a morte da empresária e ex-proprietária da Daslu, Eliana Tranchesi, com o governo Lula. Eliana, segundo Casoy, seria uma grande vítima do esquema do mensalão – que, como gosta de dizer Mino Carta, ainda está por provar-se –, quando, no lugar dos reais responsáveis, foi jogada às covas dos leões, humilhada por um governo que queria desviar as atenções. “O governo Lula viu em Eliana um instrumento para tentar desviar as atenções da população sobre a roubalheira do mensalão. Eliana foi exposta à execração pública e humilhada, o que deve ter contribuído, e muito, para o câncer que a matou”, finalizou o jornalista. Após falar tanta asneira, Boris Casoy espirrou. – Aqui cabe uma nota interessante: Eliana Tranchesi foi condenada a 94 anos de prisão por sonegação fiscal e contrabando. Tudo foi comprovado pela operação da Polícia Federal, batizada de Operação Narciso, realizada em julho de 2005. À época, a filha do governador de São Paulo, Geraldo Alckmim, era uma das “dasluzetes”.

O que esses três casos têm em comum, além do discurso lunático de quem os proferiu? Para mim, está claro: a campanha de desconstrução e demonização da figura de Lula e de seu governo continua a todo gás. O PiG (Partido da imprensa Golpista), expressão tão bem difundida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, se empenha, desde o primeiro dia de 2003, em julgar e execrar Lula e seu governo. Para isso, vale esquecer os princípios básicos do jornalismo, vale mentir, vale forjar prova, vale requentar notícia antiga, vale ouvir só um lado, vale falar que o presidente bebe demais, vale dar a uma bolinha de papel o peso de uma tonelada, vale publicar ficha falsa que circulou pela internet, vale babar, quando da discussão sobre o Conselho Federal de Jornalismo, que Lula e o PT queriam controlar as redações dos jornais, vale debochar, vale publicar livro chamando o presidente de anta, vale mandar Lula se tratar no SUS, vale chamar de picareta ao vivo na TV, vale esconder as privatarias dos tucanos. Vale tudo.

Em um artigo de 2010, Luís Fernando Veríssimo diz que as gerações futuras de historiadores terão enorme dificuldade para compreender a razão de um presidente da República tão popular como Lula, que saiu com aprovação recorde, ser alvo de uma campanha permanente de oposição e desconstrução por parte da mídia brasileira.

A campanha continuará – e será, no mínimo, interessante ver a que ponto pode chegar a má fé e o ódio de classe da grande mídia que tenta, exaustivamente, marcar a imagem de Lula com as piores manchas possíveis.

Historiadores, ao trabalho.

lunes, 13 de febrero de 2012