viernes, 28 de noviembre de 2008

Em casa...

Depois de estar um dia e meio na bela Humahuaca, província de Jujuy, peguei o ônibus que me largou, após três horas, em Iruya, cidade que não chega a ter mil e quinhentos habitantes, na província de Salta, a 2.764m acima do nível do mar. Foi só eu descer do ônibus, numa quarta-feira às nove da noite, veio um garoto com a euforia de dezesseis anos me oferecer um quarto para passar a noite. (A pacata cidade é invadida pelos turistas no carnaval. Nessa época, aqui não é lugar para descansar, me disse o camarada. Bebe-se muito, muita festa. "La alegria no es solo brasilera" (Charly García)). Subimos uma pequena e estreita rua. Ofegantes. Chegamos à casa de Dona Asunta e Seu Ricardo. Asunta está viajando, infelizmente não pude conhecê-la. Seu Ricardo é de uma tranquilidade contagiante. O homem, que deve ter uns 90 quilos de serenidade, estava acompanhado de seu sobrinho, Angel. Tudo era muito simples. Tudo estava em ótimas condições. Quem disse que eu preciso de luxo? Como se fôssemos da mesma família, nos sentamos à mesa. Comi arroz, duas empanadas, tomate e alface. Eles já haviam comido. Sabe como é, né? No campo, às sete da noite o jantar já está pronto. Assistimos um pouco de televisão, conversamos sobre futebol e outro tanto sobre Brasil e Argentina. Um pôster do River Plate decorava a parede envelhecida sorrateiramente pelo tempo. Saímos para ver as estrelas no pátio. Lhes dei boa noite, depois de estarmos os poucos minutos necessários para fumarmos um cigarro. Fazia frio... Com o barulho da chuva fina e cuidadosa que caía no telhado de amianto, fechei os olhos e, sem que eu percebesse, adormeci em um colorido sonho. Despertei às dez da manhã de uma quinta-feira de algodão, vinte de novembro, com cheiro daquele mesmo vigésimo dia de novembro que vivi em 68, para uma última volta pela cidade. Iruya é tão pequena e mágica que se pode escutar pelo alto-falante: Senhor Javier, favor comparecer à Prefeitura às 16h". Depois da caminhada, comprei quatro bifes para almoçar com Seu Ricardo. Ele comeu apenas um. Cuidados com a saúde, recomendação médica, explicou-me. Angel não estava. Almoçamos, conversamos um pouco e, às duas da tarde, peguei o ônibus de volta à Humahuaca e deixei Iruya para trás. Agora a levo no bolso da minha jaqueta azul, no lado do coração.
Iruya - Província de Salta
20/11/08

lunes, 24 de noviembre de 2008

Eu e Fabián: bate-papo em Tilcara

Após deixar Purmamarca e viajar pouco menos de uma hora, cheguei em Tilcara (2461m acima do nível do mar), norte da província de Jujuy, às duas da tarde. Terça-feira um pouco nublada. Caminhada pela cidade para ver os que habitam o local. Eu não estarei muito em Tilcara, pois às nove da noite pegarei o ônibus rumo à Humahuaca. Fui a um armazém pedir para usar o banheiro. Comprei duas empanadas e me sentei no passeio para ver a banda passar. Aí estava Fabián. Fabián é um garoto de oito anos. Sorriso envergonhado, tímido. Gosta muito de jogar futebol com os amigos da escola, mas quer mesmo ser policial. É torcedor do River Plate, assim como seu pai. Fabián adora ver televisão e jogar vídeo-game. Porque é jogo de criança, me explicou. Ele é o mais novo de um total de oito irmãos. E onde está sua esposa? Não tenho esposa, lhe comentei. Onde está sua namorada, perguntei. Não tenho, me respondeu encolhendo os ombros e sorrindo com pureza e leve vergonha. Fabián não gosta, de jeito nenhum, de cachorros. Podem morder e me machucar, me disse. Fazia frio, ventava bastante. Depois de muito conversarmos, nos despedimos e ele foi, como me havia dito, ajudar a séria senhora dona do armazém. Aqui na rodoviária, encontrei Matías (esse mesmo, o de Cafayate e Salta) por pura coincidência. Conversamos um pouco, fumamos um cigarro. Matías está regressando à casa; eu, no ônibus das nove, chegarei em Humahuaca, a 42km de Tilcara, onde conheci meu amigo Fabián.


Na rodoviária...
18/11/08

viernes, 21 de noviembre de 2008

Estrada e vida que segue (como tem que ser)

Cafayate é uma encantadora cidade. Pequenininha, tranquila, dessas que dá vontade de carregar na palma da mão. Após pouco caminhar, encontrei um hostel. E ali fiquei. Bom preço, ambiente buena onda. Seis da tarde. Deixei a mochila na cama e fui logo tomar um banho. Mais relaxado, pude ter contato com os outros viajantes do lugar. Me sentei a tomar mate e conversar com quatro pessoas que seriam meus companheiros de viagem pelos próximos dois dias. Os argentinos Matías e Paola, a francesa Lídia e o dinamarques Tobien. Após duas horas de conversa, mate e alguns cigarros, fui cozinhar. Minha cabeça reclamava, angustiada, e doía. Além de haver caminhado muito tendo o sol forte como pele, não havia comido bem e tomei pouca água. Era natural que minha cabeça desse sinais de descontentamento. Comi, mas continuava doendo. Mesmo bem alimentado, sentia alfinetadas, precisas e intensas, em minhas têmporas. Eles (os quatro) saíram para tomar uma cerveja à meia-noite, eu fui para o berço, como se diz. Se eu não fosse dormir em cinco minutos, minha cabeça explodiria como a rosa de Hiroshima. No dia seguinte, um quatorze de novembro, sexta de lindo sol, acordei para o café da manhã, que é servido até às dez. Um pouco mais de conversa com los chicos, que se foram para Salta (capital) no ônibus das duas. Como eu iria mais tarde, combinamos que eles me avisariam em qual hostel estariam e eu marcharia pra lá. No mesmo horário que eles se foram, fui fazer um passeio pela Quebrada de Cafayate, La Garganta del Diablo e El Anfiteatro, lugares lindos de formações rochosas impressionantes. Pela Quebrada um vento que só vendo! Se eu soltasse meu corpo, era capaz de o vento levar-me até a Lua. Não seria má idéia, confesso. O último lugar a conhecer, El Anfiteatro, também era o local onde passaria o ônibus que me levaria à Salta, às sete. Cinquenta minutos antes eu já estava na beira da estrada. "Foi lá na beira do Pantanal, seu corpo tão belo enterrei". E o quê eu iria fazer? Pedir carona. Passaram um, dois, dez carros... e nada. Comi duas empanadas que tinha guardadas em minha mochila. Fumei um cigarro. Vi um enorme caminhão. Pode ser esse, pensei, com um fio de esperança. Não foi desta vez. Poucos minutos depois, mais um carro, mais um sinal de dedo. Só que desta vez funcionou. Pararam a alguns metros à minha frente, corri, lhes cumprimentei e perguntei para onde estavam indo. Salta, capital. Bingo! É o meu destino também, posso ir com vocês? Após dois segundos de dúvida, me disseram de forma simpática que sim. Coloquei a mochila no porta-malas, entrei no confortável carro, desses bem modernos, com velocímetro digital e um bocado de botõezinhos no volante, cada qual com sua função, uma mais moderna que a outra, imagino. Quem tomava o melhor cafezinho de Formiga no Rex do Seu Milton nem podia imaginar que um dia existiria carros tão modernos assim, que só faltam falar. Mas só o Fusca pode e sabe falar, eu sei disso. Pois bem... foram duas horas de agradável viagem com Jorge e Linda. Eles são de Córdoba. Suponho que Jorge tem seus quarenta e oito anos e Linda, quarenta e cinco. Têm três filhos, me mostraram a foto. Jorge é engenheiro e vai muito a trabalho para o Brasil. Certa feita, em Belo Horizonte trabalhou um mês. Gostou muito da cidade jardim, que já nao é tão jardim mais. Linda é filósofa. São pessoas, como se diz, da melhor qualidade. O hotel onde se hospedariam por duas noites fica no centro. Descemos do carro, nos despedimos com sorrisos e abraços de velhos conhecidos e caminhei oito quarteirões até o hostel onde eu me encontraria com los chicos. Nove da noite de uma sexta-feira movimentada em Salta, que deve ter seus trezentos mil habitantes. Cheguei ao hostel, tomei banho, comi e me encontrei com os outros quatro viajantes. Fomos à um bar perto do albergue tomar algumas cervejas. Foi uma noite muito divertida. Sábado pela manhã acordamos e nos encontramos (tínhamos que sair às 11h). Breve caminhada até a rodoviária. De mala e cuia. Matías, Paola e Lídia seguiriam viagem. Tobien e eu ficaríamos e buscaríamos outro hostel. E assim fizemos. Conseguimos um lugar bom e barato. Deixamos as mochilas e fomos comer algo. Tirei um breve e necessário cochilo e, com Tobien, fui visitar sua amiga que trabalha em outro hostel. Três cervejas, um pouco de prosa e fim de papo. Assim foi minha tranquila e última noite em Salta. Domingo de sol, Tobien e eu fomos para San Lorenzo, pequena cidade a quarenta e cinco minutos da capital. No trajeto, um garoto, que deve ter treze ou quatorze anos e outro com seus vinte e cinco, se beijaram. Duas vezes. Tobien não gostou muito de ver. Chegamos no parque, subimos a serra para ver a cidade lá de cima. Subida difícil, escorregadia. Muitas pedras e terra fôfa. Lá do alto tiramos foto, descansamos e conversamos um bom instante. A descida é mais tranquila. Pode-se, e é mais fácil, descer de lado, deslizando por vezes. Voltamos à capital, compramos e cozinhamos belos e suculentos bifes com batatas. E pão. Tínhamos fome. Tudo isso com direito a uma Quilmes vermelha bem gelada. E nos despedimos. Eu teria que pegar o último ônibus daquele proveitoso domingo, dezesseis de novembro. Deixei Salta La Linda às dez, rumo à San Salvador de Jujuy, capital da província de Jujuy. Mesmo esquema rotineiro: buscar hostel para descansar e ter uma tranquila noite de sono. E sonhos. Encontrei com facilidade. Dormi como um tijolo. Me despertei, comi e dei uma volta pela cidade. Não há muito o que fazer na capital de Jujuy. Melhor mesmo são os pueblitos, as cidadezinhas. Aliás, de Tucumán e Salta também. Encontrei, como havíamos combinado, com Ramiro e Valéria, dois amigos de Buenos Aires que também estavam por essas bandas. Duas horas depois eu já estava na rodoviária, depois de fazer um belo lanche, para pegar o ônibus à Purmamarca, um lindo pueblo de não mais de cinco mil habitantes. Pisei no chão de terra de Purmamarca, onde as nuvens parecem tão perto que quis tocá-las, às dez e meia e me instalei em um simples e cômodo alojamento. Comi meus pãezinhos, caminhei pela cidade, que deve ter uns quinze quarteirões, rodeados e protegidos por serras e montanhas. Depois de estar na praça e ver o céu e as estrelas jujeñas, fui dormir. Acordei hoje, dezoito de novembro, às sete e meia para, com três outros camaradas, dar uma volta e conhecer o Cerro de los siete colores e La Montaña Colorada. Belo passeio! Dos três, um era argentino, um norte-americano e Rosane, uma francesa de pele vermelha castigada pelo sol. Nos despedimos e agora estou na praça, onde ontem vi uma estrela que se chama Renê, escrevendo e esperando o ônibus que, daqui a pouco, me deixará em Tilcara, outro pueblo do norte da província de Jujuy. Cada vez mais me acerco à fronteira com Bolívia. Falta pouco para conhecer outro mundo...
* Por todo o norte argentino, muitos turistas, mesmo não estando em temporada alta. Impressionante a quantidade de franceses.
Deixando Purmamarca...
18/11/08

lunes, 17 de noviembre de 2008

Como eu havia dito, é só o início, meu camarada...

Depois de uma volta durante todo o dia por San Miguel de Tucumán, sentei para tomar uma cerveja, comer três empanadas e olhar uns mapas que tenho... e isso até me fez parecer um mochileiro organizado. Comi as famosas empanadas tucumanas e fui para o hostel dormir. Me despertei às oito da manhã daquela quarta-feira, doze de novembro, tomei café e fui para a rodoviária comprar passagem e seguir estrada rumo à Tafí del Valle, ainda na província de Tucumán. Pouco mais de três horas de viagem. Paisagens que me transmitíam um poder imenso. Tafí é um lindo pueblito. Comparando-a ao Mineirão, a pequena e simpática cidadezinha, onde eu tinha vontade de cumprimentar a todos, e de fato assim fazia, seria o gramado e as imponentes montanhas seriam as arquibancadas deste estádio onde já chorei de raiva e de alegria. Tirei muitas fotos, caminhei bastante. Lá pelas dez da noite, cozinhei e fui tomar uma única e exclusiva cerveja com um camarada suíço que eu havia conhecido. Voltamos para o hostel meia-noite, li um pouco e dormi feito uma rocha. Acordei cedo pois ia para Amaicha del Valle no primeiro ônibus do dia seguinte, aquela silenciosa quinta-feira. Acordar às sete e meia não foi tão complicado. Comprei um par de facturas e fui para a rodoviária. Algo me disse, talvez um vento intrometido, que eu não deveria passar por Amaicha, que deveria seguir diretamente para Las Ruínas de Quilmes. Que bom que eu dei ouvidos a esse sábio vento! Comprei passagem para Las Ruínas. Antes de chegar ao meu destino, paramos numa blitz da polícia. Subiram com cachorros. Cachorros farejadores, desses bem fuxiqueiros, que querem encontrar tudo só para massagear seu ego de cachorro vaidoso. Dois espanhóis e dois baianos tiveram que descer para prestar algumas informações e deixar que revistassem suas bagagens. Eu também. Me pediram documento, lhes mostrei a cédula de identidade. O policial retrucou e quis ver o papel de entrada no país, que no meu caso é o carimbo no passaporte, documento esse que eu não queria mostrar. Não tive escolha. Ah, me disse, então quer dizer que voce está com o visto vencido há um mês e meio? Sim, verdade, mas quando cruze a fronteira com Bolívia, pagarei uma multa e terei o visto renovado por mais três meses, lhe expliquei com certa autoridade. Faça isso em Salta, em um departamento de imigração. Claro, farei quando pise em Salta, lhe respondi. Nem me preocupei com isso. Tudo se resolverá na fronteira com Bolívia. Abriram mochila, revisaram tudo. Havia muito pó branco esparramado dentro da mochila. O policial provou com excitante curiosidade. Era sal que eu uso para cozinhar que havia caído por todo lado. Seguimos viagem sem nenhum cheiro de problema. Desci num certo ponto da estrada, a atravessei com passos precisos e fui ao encontro de um homem não muito alto e que deve ter seus quarenta e cinco anos. Se chama Hernan e estava aí para levar as pessoas até a entrada das ruínas, num caminho de terra de cinco quilômetros. Muito simpático o camarada, me deixou na entrada, onde também deixei minha mochila e fui ver as ruínas, que foram locais de resistencia indígena à colonizacao espanhola. Andei muito, tirei muitas fotos. Fiquei impressionado com tanta beleza. Cheguei até a metade da ruína onde se pode subir, o que já é considerável. De um lugar bem alto, me sentei, tirei a camisa. Me sentia extremamente bem. Todos embaixo estavam pequenininhos. Desci com imensa satisfação de poder ter pisado nessas pedras que guardam segredos. Não havia muita gente, apenas os que trabalham ali no local, e um casal que estava indo embora. De carro. Não pensei duas vezes e pedi uma carona. Caminhar esses cinco quilômetros de volta à estrada não estava nos meus planos. Claro, pode entrar, disseram os holandeses. Maravilha! Papo vai, papo vem, arranhando meu inglês pra lá de razoável, me esqueci da mochila na entrada. Quando me lembrei, já estava descendo do carro e agradecendo ao amável casal. Não me restava outra, teria que caminhar e resgatar minha mochila. Quem sabe não chega algum turista de carro, me indaguei. Resolvi fumar um cigarro. Não havia ninguém. Só escutava o canto dos pássaros. Um deles cantava Beatles. Sim, é verdade que os pássaros gostam muito de Beatles. Foi quando eu escutei: "Ei, brasileiro...". Era Hernan, o simpático camarada que faz o "frete" com sua caminhonete ano 72. Lhe expliquei e ele me disse que me levaria até lá. Sempre com boa conversa. Para agradecer-lhe, o convidei para tomar uma cerveja e uma porção de batatas num bar na beira da estrada, que na verdade era a casa daquela terna senhora. Estivemos aí quase uma hora, em companhia de dois senhores, que eram irmãos e moravam nas redondezas. Muita prosa, casos. Tirei fotos. Foto, também, do sossegado cavalo branco de um dos irmãos. O dono tinha muito orgulho do animal e amigo, chamado El Cholo. Me despedi e fui para a estrada seguir meu caminho a Cafayate, província de Salta, a uma hora e meia desse lugar onde estive com gente de verdade. Pedi carona na beira da estrada. Sim, ainda se pode viajar de carona pelo norte argentino. Gosto muito dessa idéia. Viajar a dedo! Quarenta minutos, ninguém parou, mas eu sabia que o ônibus passaria por alí. E não falhou. Dei sinal, o ônibus parou e pude, com extrema tranquilidade, chegar a Cafayate para seguir o mesmo roteiro: rodoviária, posto de informaçoes turísticas e buscar uma cama para descansar meu corpo delgado, feliz em percorrer cada centímetro desta viagem.


* Hoje continuo a escrever o que me aconteceu até ontem à noite, domingo, quando aqui cheguei. Tenho sonhado muito. Pessoas que viveram e vivem em minha vida sempre me visitam. "Some are dead and some are living, in my life i've loved them all."

San Salvador de Jujuy (capital da Província de Jujuy) - Argentina
17/11/2008

martes, 11 de noviembre de 2008

É só o início, companheiro Bruno...

(Ainda em Buenos Aires, dia 10/11...) Saímos com vinte minutos de atraso. Exatamente às onze da manhã o trem começou a percorrer os primeiros quilômetros rumo a Tucumán. Buenos Aires vai ficando pra trás, cada vez mais, bem lá no fundo. Tenho uma poltrona ao meu lado e duas à minha frente, parecido com alguns ônibus de Belo Horizonte, quando ou você olha para a rua, para o chão ou para a pessoa que está à sua frente. Nunca gostei de sentar-me nessas condições. No meu caso, as três pessoas são, suponho, da mesma família. Por vezes se acercam para cochichar algo que, parece, não lhes é conveniente que eu escute. Só olho de rabo-de-olho. Parecem gente humilde. "Tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim todo o meu peito se apertar". Eles são de Santiago del Estero, província do norte argentino, perguntei para um deles. O mais velho lembra meu avô. Pele cor de picolé de côco queimado, pele de gente do campo, assim como tinha Seu Jair.
Quase não dormi na noite passada. Músicas de Bob Dylan tocaram sem parar no rádio que eu tenho na minha cabeça, por isso não preciso usar iPod, mp4 e todas essas parafernalhas. Tiro um breve cochilo. De boca aberta. Passagens, por favor! Me desperto com o grito do funcionário. Tenho um pouco de fome e como a metade do meu sanduíche de milanesa. Começo a espirrar sem parar e meu nariz a escorrer, o que muito me incomoda e irrita. Da janela bastante empoeirada vejo tudo ficando para trás. Pequenas casas de campo, pasto, algumas simpáticas vacas. Baixem a persiana, por favor, diz o funcionário da Ferrocentral. Uma breve pausa em Villa Constituición. Saludos a Nazareno! Próxima parada: Rosário, cidade onde nasceu meu amigo Che. Poderei descer e fumar um cigarro. O vagão está lotado. Muitas famílias. Crianças tomam refrigerante e fazem trilhões de perguntas aos seus respectivos pais. Poucas sabem responder os adultos. Somos tão tolos! Legal mesmo é ser criança. Cansei de escrever com o chacoalhar do trem. Vou fechar os olhos e, quem sabe, cair em sono lindo e profundo. Hey, Dylan, toque uma canção para mim...

* Depois de 25 horas de cansativa viagem, cheguei a Tucumán, mais precisamente à capital, San Miguel de Tucumán, ao meio-dia. Cabelo sujo, pele melosa. Uma ducha de trinta minutos, uma sessão de massagem de uma hora com suco bem gelado de abacaxi e hortelã, pode ser? Pedi fogo à uma garota, começamos a conversar. Ela, que é de Buenos Aires, contou-me que seu destino é Cuba. Dividimos o táxi até o centro, nos despedimos e desejei-lhe sorte na viagem. No centro, procurei um hostel e me instalei. Fico aqui uma noite, amanhã sigo para Tafí del Valle, aqui pertinho. Tá um calor infernal! Vou dar uma volta pela praça, a noite está linda. Hoje é aniversário de minha irmã. Parabéns, Maíra !!! Felicidade, paz e amor hoje e sempre!! Sinta-se abraçada e beijada daqui de longe...


San Miguel de Tucumán (capital da Província de Tucumán) - Argentina
11/11/2008

lunes, 3 de noviembre de 2008

...o dia já vem raiando, meu bem, e eu tenho que ir embora...

Após um ano e um mês morando nesta residência estudantil, chegou a hora de arrumar as coisas e zarpar. Hoje é minha última noite aqui. Amanhã vou para a casa de dois amigos, "moro" com eles até dia 10, quando começo minha viagem ao estilo Kerouac, como um verdadeiro vagabundo iluminado. Tá chegando a hora...