miércoles, 9 de septiembre de 2009

O pássaro e o moço

Aquele pássaro era muito curioso. Era o mais desconfiado da sua turma. Sempre quando ele voava e passava por um certo lugar, rodeado de montanhas de veludo, sua vontade era de parar e conversar com o jovem que lá estava dependurado numa cruz, como se dormira os mais lindos dos sonhos. Mas passava sempre direto. Sempre. Até que a curiosidade reclamou à sua alma e ele não pôde evitar: teria, para livrar-se desse peso, que declinar voo e trocar meia dúzia de palavras com o rapaz. O pássaro firmou-se assustadoramente ansioso à esquerda do jovem. Teve medo de acercar-se, mas mesmo assim o fez. Notou que o moço não estava ferido e tinha os olhos fechados. Talvez se sinta confortável, parece dormir tão profundo, pensou. Mas ele não dormia, e sabia que o pássaro estava ali com seus olhos amendoados e uma angústia terrivelmente notável. Como há muito não fazia - bem verdade fez pouquíssimas vezes desde que o pregaram num pedaço de madeira para nunca mais, em hipótese alguma, nem de morte de mão ou pai, poder descer de lá, abriu os olhos. Quando ele abriu seus tristes olhos de papel, viu o pássaro, que o mirava com igual tristeza. Ninguém falou nada, apenas entreolharam-se durante poucos segundos. Isso não importa, esses poucos segundos valeram mais que a eternidade. Ora, quando o pássaro levar a areia, grão a grão, de um lado a outro do oceano, dar-se-á conta que isso é só o começo da eternidade. Pois estavam mirando-se naquela tarde de céu de cimento, quando, sem que nenhuma palavra fosse dita, o rapaz, esgotado, chorou. Lágrimas de sangue. Se a tristeza tivesse que ser uma cor, ela seria vermelha, rubra. O pássaro perguntou ao jovem: Por quê choras as mais lindas lágrimas que eu jamais vi com esses olhos desconfiados? O moço não falou nada, mas a resposta estava no olhar que a alma daquele ordinário pássaro recebeu tal qual uma martelada. Se deu conta que era horrivelmente penoso e injusto para aquele rapaz. Aquele rapaz, que se pudesse descer, correria feito bobo por aquele pasto. Após alguns segundos, o pássaro tomou rumo de casa; o jovem fechou os olhos. Quando a lágrima cor de tristeza deslizou sobre toda a face do pobre moço e explodiu, rubra, pesada como cobre, naquele pasto que a chuva voltará a beijar, o pássaro sentiu devastadora tristeza, um choro esmagado na alma.

Buenos Aires
18/09/09
En la terraza. Se puso fresco...

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