Da esquerda para direita: Stills, Nash e Crosby tocaram pela primeira vez no Brasil |
Seria
leviandade de minha parte, confesso, tentar precisar um horário, mas já
devia ser quase uma hora da manhã do último domingo. De repente, me
senti ao ar livre – embora eu estivesse mesmo era dentro de um ginásio
–, com o vento serpenteando na minha cara e espalhando a fumaça que
fazia com que fiscais engravatados viessem em minha direção.
O
concreto não mais existia – ou, se existia, havia se transformado então
em um lindo céu azul, um azul forte, bonito, que carregava também um
par de estrelas. Eu disse que devia ser quase uma hora da manhã. Tolice
minha pensar em horário, quando naquele momento tudo se resumia a três
vozes que se encontravam de maneira impressionante, três vozes capazes
de fazer calar até um coração delator, meu caro Allan Poe.
Três senhores saídos lá de 1969: Crosby, Stills e Nash.
Depois de mais de quatro décadas, vieram a Belo Horizonte e fizeram um
show de mais de duas horas separadas apenas por um breve intervalo.
“Rock ‘n’ roll, puta que pariu!”, gritava o camarada ao meu lado. E o
show teve muito rock ‘n’ roll, é verdade – Bernardo, meu caro, eles
tocaram Almost cut my hair. Mas o que me encantou, que fez com
que eu me sentisse ao sabor do vento num ginásio fechado foi o poder das
três vozes e um violão – apenas as vozes de Crosby, Stills e Nash e um
violão. Só isso. Foi um daqueles momentos em que tudo em volta perde o
sentido, você não sabe mais se está em Belo Horizonte ou em um rancho em
Woodstock; você só tem ouvidos para escutar a canção. E nada mais
importa.
É mágico quando um artista, uma banda
ou um trio conseguem hipnotizar uma plateia só com música, sem efeito,
sem tecnologia nenhuma, só voz e violão. Foi assim que Crosby, Stills e
Nash terminaram o show. E a madrugada de domingo ainda deixa vestígios.
Texto originalmente publicado no site da Revista Ragga.
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