jueves, 12 de febrero de 2009

A los chicos...

Ao lado de onde eu moro há uma casa tomada. Em San Telmo, bairro que me hospedou desde o primeiro dia, há uma porção delas. São casarões ocupados por famílias, que chegam e se apropriam do espaço. Ao lado da pequena varanda do meu quarto está a da família dos meus amigos. Com varal humildemente improvisado e tudo. Ao todo são seis crianças. Três são os homens. Michael, de uns doze anos, o outro que eu não me lembro do nome, deve ter onze. Posso muito bem inventar um nome para meu amigo, mas a importância que dou a isso é quase zero. E também Dante, que vive neste mundo há cinco anos. Outro dia encontrei Michael quando fui comprar cigarros. Me pareceu meio ressabiado, querendo dizer algo. Perguntei se estava tudo bem. Respondeu que sim, mas nem ele acreditou no que havia dito. O garoto pele-de-neve tinha duas garrafas de cerveja e uma de refrigerante numa sacola branca que suas mãos seguravam com certo incômodo. Antes de nos despedirmos, falou que era aniversário de seu pai, mas não ligaria porque estava chateado com ele. Consequência de um telefonema que nunca aconteceu naquele dia em que todos que conhecem Michael lhe desejaram felicidades. Está marcado no calendário e assim se procede. Ele estava aborrecido, confessou que ligaria dias depois. Nos despedimos e fui, caminhando pela Avenida de Mayo - onde "conheci" Roberto Arlt, para o hostel gozar mais uma noite de trabalho. O garoto que deve ter onze anos, esse mesmo, o que não sei o nome, encontrei faz pouco tempo. Ele havia ido comprar cerveja e refrigerante com a mesma sacola que Michael segurava com pouca vontade. Perguntei como estavam as coisas, ele me disse que tudo corria muito bem. Contou que Michael estava de castigo, por isso teve que cumprir a missão que outrora era do pele-de-neve. Motivo da reclusão: ele não havia feito os deveres da escola. Fiz cara de "isso acontece" e nos despedimos.
Dante, o de cinco anos, é um camarada muito engraçado. Nestes últimos tempos, tem me cumprimentado em português. Tudo bem, pergunta um orgulhoso Dante, feliz em mostrar que pode, com incrível doçura, falar meu idioma. Ele sempre me pede biscoito. Ou fruta. Quando falo que não tenho, o garoto sorri e pergunta: "E dinheiro, muito menos?". Hoje nos encontramos na varanda. Em português saudou-me. Perguntou se tinha biscoito. Eu disse que não. Ele viu que eu tinha algo nas mãos. Perguntou-me o que era. Argila, afirmei despretensiosamente. Dante arregalou os olhos de tanta surpresa, como quem concebe algo extraordinário, e sentenciou: "Isso eu nunca provei".


Buenos Aires

08/11/2008

4 comentarios:

Anónimo dijo...

O Dante me fez recordar uma noite em Buenos Aires, aquele garoto vendendo flores na pizzaria, lembra? Estava muito frio e ele ali, sozinho, tão novinho... que garoto lindo!!!!!!! Beijos Mi.

Maíra Vasconcelos dijo...

muito, mas muito bem utilizado o humor negro...
realmente, ficou muito bom !
Besos !
Suerte!

Maíra Vasconcelos dijo...

Flaco, mucha suerte !
:)

Extraño a todos un montón...

Beso grande !

Anónimo dijo...

Hace ya un buen rato que no veo a Dante.. Quizás porque casi ya no me asomo al balcón. El otro día vi a Yamila, ¿te acordás de ella? Me encanta esa nena..