miércoles, 29 de octubre de 2008

Você já foi ao espelho, nêgo? Não?! Então vá!

Estive toda a tarde, beijado pelo sol portenho, no terraço de minha casa escutando música e pensando. Na vida, em qualquer coisa. Me lembrei das boas his(es)tórias que vivi com meus amigos e até de quando, em uma festa de fim de ano na minha escola, eu cantei, com meu companheiro Danilo, "Tente Outra Vez", de Raul. Eu tinha oito anos e esse baiano já começava a fazer uma tremenda revolução na minha cabeça.
Pois bem... Eu estava verdadeiramente tranquilo; me sentia tão bem que o estridente ruído do freio do ônibus nem chegava a me incomodar. De repente, como num estalar de dedos, meu olhar se perdeu longe naquele horizonte confuso e desconhecido. Da plenitude e paz sentidas até então, passei a experimentar uma sensação amarga, dolorosa, como se alguém tivesse jogado sete toneladas de culpa em meus ombros. Me senti monstruosamente pesado, julgado, marginalizado e condenado sem direito à defesa. E, de fato, quando me levantei da desalmada cadeira de plástico que sustentava toda minha angústia, quase caí, tal qual um bêbado, no chão verde-cinza. Me reergui, bem verdade com dificuldade, e tratei logo de encontrar uma solução para tirar esse horrível e injusto peso que, confesso, me produzia certo incômodo. Cinicamente, tentei chorar. Não consegui. Nesse inútil desespero, me lembrei que eu tinha algo mais importante a fazer que ajoelhar-me e deixar que essa carga me fizesse desabar feito um troço morto de carne. Ora, eu tinha que cozinhar e, depois, ir ao cinema! Me senti pleno novamente, pude respirar sem dor, limpo.
E foi assim, com admirável displicência, que tirei, como se fosse uma ridícula pena da mais vaidosa galinha, essas sete toneladas que quiseram colocar, sutilmente, sobre meus lindos e inocentes ombros.
Buenos Aires
22/09/2008
Primavera nos dentes...

1 comentario:

Anónimo dijo...

Se pudesse, ficaria horas lendo seus textos.....não dá vontade de parar... Beijos, Mi.